INT. DIA- SALA DE JANTAR
Beatriz está com um lap-top, escrevendo. Voz-off.
Trabalhar com crianças para mim se torna cada dia mais gostoso, e a cada aula mais coisas inesperadas acontecem. Uma das grandes lições que já aprendi é: criança não tem muita paciência com ensaios, devemos sempre fazer com que se sintam brincando, com que estejam se divertindo. Outra grande lição, é que elas precisam de exercícios em que corram, pulem, gritam, riem muito!
INT. DIA- SALA DE DANÇA ESPELHADA, GRANDE
Aula de teatro com uma professora de 21 anos, e 20 crianças entre 9 e 14 anos.
Uma vez, me deixei ganhar pelo "Pic-Bandeira", uma brincadeira de criança onde dois times têm uma bandeira, cada no final da linha, uma queimada com bandeira. Comecei a minha aula bem, mas no meio dela as crianças começaram a me pedir para brincar de Pic-Bandeira. Na hora disse pra mim mesma
PROFESSORA
Não. O que essa brincadeira tem a ver com teatro?
Mas as crianças continuaram insistindo, e eu tinha reservado um tempo pra aula pra elas escolherem a brincadeira. Meia hora para o término da aula, e eu era voto vencido. Já tinha feito o que precisava fazer, e todas as crianças queriam brincar de pic-bandeira. Ok... Fazer o que? Um dia a gente perde, no outro a gente ganha. Naquele momento eu ganhava o carinho delas.
INT. NOITE- SALA DE TELEVISÃO
Beatriz está de pijama sentada no sofá, com seu lap-top no colo, um cadeiro e um estojo ao lado.
Depois dessa aula, tive pra mim: eu mesma vou inventar e levar brincadeiras cênicas! Começou o quebra-cabeça. Como pegar uma brincadeira clássica e colocar teatro? Bom, não sei se fui original, ou se essa brincadeira estava em alguma gaveta do meu cérebro, só sei que levei algo: Queimada Cênica. Quando você é queimado, deve ficar paralisado com alguma máscara teatral. Máscara neste caso, entende-se por pose/careta, etc.
INT. DIA- SALA DE DANÇA ESPELHADA, GRANDE
Aula de teatro com uma professora de 21 anos, e 20 crianças entre 9 e 14 anos.
Mas... por incrível que pareça, neste dia de aula eu não precisei usar! Ao contrário da aula anterior, as crianças embarcaram no jogo cênico. Fizeram cenas com fala, e logo em seguida a mesma cena sem fala. Foram ótimas! Pra mim, quanto menos fala uma criança tiver, melhor pra ela! Devemos explorar sua capacidade de criação, e convenhamos, a fala nos facilita muito!
Quando apresentaram a cena com fala, se divertiram e riram com as amigas. Logo depois, propus para elas um novo tipo de cena:
PROFESSORA
Façam a mesma coisa, sem fala!
CRIANÇA 1
Como assim, prô?
PROFESSORA
Simples, façam quase uma mímica. Exatamente o que vocês fizeram, sem fala alguma.
Senti que ficaram com o pé atrás, e para tranquilizá-las, dei um conselho.
PROFESSORA
O segredo é exagerar!
Como sempre dizemos no teatro, comece exagerando, é melhor podar do que tentar plantar! E o resultado? Melhor do que eu esperava! As crianças foram ótimas, fizeram tudo certinho. Na apresentação dos 2 primeiros grupos, estava tudo muito silencioso, até que uma menina disse:
CRIANÇA 2
Prô, eu prefiro com as falas.
Como eu mesma defini que as apresentações seriam sem fala, logo pensei:
PROFESSORA
Porque já não coloco uma música?!
Pedi para o terceiro grupo esperar para apresentar, e coloquei a famosa "With a Little Help from my Friends", versão Beatles. Resultado? Sucesso! Logo depois do terceiro grupo, todas as crianças adoraram, disseram que parecia um clipe. Às vezes o professor sabe o que está fazendo... Elas gostaram tanto que nem deu tempo de brincar de queimada cênica! Fica pra próxima aula...
INT. DIA- SALA DE JANTAR
Beatriz está com um lap-top, escrevendo. Voz-off.
Contei estes exemplos porque querendo ou não, professor só aprende na prática a maneira de trabalhar com cada sala. Agora, não dou mais aula sem levar uma brincadeira cênica. Preparar aulas de teatro é parecido com criar um roteiro: tem que saber seu público-alvo, o enredo, seu objetivo final, o acontecimento principal, e como amarrar tudo isso de uma maneira divertida e didática, sem esquecer do elemento-surpresa! E claro, sempre levar o stand-by.
FIM.