quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O ELEMENTO SURPRESA

INT. DIA- SALA DE JANTAR 
Beatriz está com um lap-top, escrevendo. Voz-off.

  Trabalhar com crianças para mim se torna cada dia mais gostoso, e a cada aula mais coisas inesperadas acontecem. Uma das grandes lições que já aprendi é: criança não tem muita paciência com ensaios, devemos sempre fazer com que se sintam brincando, com que estejam se divertindo. Outra grande lição, é que elas precisam de exercícios em que corram, pulem, gritam, riem muito! 

INT. DIA- SALA DE DANÇA ESPELHADA, GRANDE 
Aula de teatro com uma professora de 21 anos, e 20 crianças entre 9 e 14 anos. 

   Uma vez, me deixei ganhar pelo "Pic-Bandeira", uma brincadeira de criança onde dois times têm uma bandeira, cada no final da linha, uma queimada com bandeira. Comecei a minha aula bem, mas no meio dela as crianças começaram a me pedir para brincar de Pic-Bandeira. Na hora disse pra mim mesma

PROFESSORA
 Não. O que essa brincadeira tem a ver com teatro?

     Mas as crianças continuaram insistindo, e eu tinha reservado um tempo pra aula pra elas escolherem a brincadeira. Meia hora para o término da aula, e eu era voto vencido. Já tinha feito o que precisava fazer, e todas as crianças queriam brincar de pic-bandeira. Ok... Fazer o que? Um dia a gente perde, no outro a gente ganha. Naquele momento eu ganhava o carinho delas. 

INT. NOITE- SALA DE TELEVISÃO 
Beatriz está de pijama sentada no sofá, com seu lap-top no colo, um cadeiro e um estojo ao lado.

    Depois dessa aula, tive pra mim: eu mesma vou inventar e levar brincadeiras cênicas! Começou o quebra-cabeça. Como pegar uma brincadeira clássica e colocar teatro? Bom, não sei se fui original, ou se essa brincadeira estava em alguma gaveta do meu cérebro, só sei que levei algo: Queimada Cênica. Quando você é queimado, deve ficar paralisado com alguma máscara teatral. Máscara neste caso, entende-se por pose/careta, etc. 

INT. DIA- SALA DE DANÇA ESPELHADA, GRANDE
Aula de teatro com uma professora de 21 anos, e 20 crianças entre 9 e 14 anos. 

     Mas... por incrível que pareça, neste  dia de aula eu não precisei usar! Ao contrário da aula anterior, as crianças embarcaram no jogo cênico. Fizeram cenas com fala, e logo em seguida a mesma cena sem fala. Foram ótimas! Pra mim, quanto menos fala uma criança tiver, melhor pra ela! Devemos explorar sua capacidade de criação, e convenhamos, a fala nos facilita muito! 

     Quando apresentaram a cena com fala, se divertiram e riram com as amigas. Logo depois, propus para elas um novo tipo de cena:
PROFESSORA

 Façam a mesma coisa, sem fala!

CRIANÇA 1
 Como assim, prô?

PROFESSORA
  Simples, façam quase uma mímica. Exatamente o que vocês fizeram, sem fala alguma. 

     Senti que ficaram com o pé atrás, e para tranquilizá-las, dei um conselho. 

PROFESSORA
 O segredo é exagerar! 

     Como sempre dizemos no teatro, comece exagerando, é melhor podar do que tentar plantar! E o resultado? Melhor do que eu esperava! As crianças foram ótimas, fizeram tudo certinho. Na apresentação dos 2 primeiros grupos, estava tudo muito silencioso, até que uma menina disse: 

CRIANÇA 2
 Prô, eu prefiro com as falas. 

     Como eu mesma defini que as apresentações seriam sem fala, logo pensei:

PROFESSORA
Porque já não coloco uma música?! 


     Pedi para o terceiro grupo esperar para apresentar, e coloquei a famosa "With a Little Help from my Friends",  versão Beatles. Resultado? Sucesso! Logo depois do terceiro grupo, todas as crianças adoraram, disseram que parecia um clipe. Às vezes o professor sabe o que está fazendo... Elas gostaram tanto que nem deu tempo de brincar de queimada cênica! Fica pra próxima aula...

INT. DIA- SALA DE JANTAR
Beatriz está com um lap-top, escrevendo. Voz-off.

     Contei estes exemplos porque querendo ou não, professor só aprende na prática a maneira de trabalhar com cada sala. Agora, não dou mais aula sem levar uma brincadeira cênica. Preparar aulas de teatro é parecido com criar um roteiro: tem que saber seu público-alvo, o enredo, seu objetivo final, o acontecimento principal, e como amarrar tudo isso de uma maneira divertida e didática, sem esquecer do elemento-surpresa! E claro, sempre levar o stand-by.

FIM. 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

DANÇA TEATRO PARA CRIANÇAS... É POSSÍVEL?

            Tenho um novo desafio para seguir: dou aula de teatro infantil para 2 turmas, a primeira de 9 a 15 anos, e a segunda de 4 a 8. Fui chamada, pois o dono da escola queria algo mais musical para trabalhar com seus alunos, e por causa da peça Os Saltimbancos, apresentada em março de 2012, fui indicada e chamada. 
            Penso, que por serem muito novos, não será possível fazer um musical convencional. As crianças intimidadas falam baixo, choram, não entram no palco. Não quero que isso aconteça. Para eliminar este risco, pretendo fazer uma "dança teatro" - bem entre aspas mesmo - com meus alunos. 
            Imagino o seguinte: peço para os alunos mais velhos me trazerem músicas que gostam, e criaremos cenas a partir delas. Não sei se é possível eles escutarem uma música e imaginarem uma cena. Eu, Beatriz, com 21 anos, faço isso direto. Se eles não criarem uma cena a partir da música, vou para o plano B. Bem início de teatro mesmo: dou uma situação, eles improvisam (com falas mesmo), e depois coloco a música, e eles devem atuar com a música, sem falas. 
            É um desafio e tanto! Será que vai dar certo? Tem que dar. Dia 16 de novembro tudo tem de estar lindo no teatro Eva Herz. 
            Gostaria de ouvir algumas experiências que professores tem com o ensino de teatro infantil... Já comecei dando uma introdução do que é um musical estudando o primeiro personagem de Os Saltimbancos, o Jumento, por sua música. Foi bem legal, mais produtivo do que imaginava. Eu já tenho uma certeza: eles compreendem a letra, sabem interpretar um texto (como na aula de português). 
            Na próxima semana eu falo como foi o primeiro dia de tentativa para montar este espetáculo! Aguardo novas experiências!