quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pina, Elis e Yoshi: Três pessoas, Uma arte

Assistir "Pina- 3D" foi um tanto quanto desesperador, principalmente quando você está lendo o livro "O Ator Invisível", de Yoshi Oida na mesma época.
Há algum tempo venho pensando em quanto conheço o meu corpo e quanto sei usá-lo em cena. Há algum tempo tenho a resposta: quase nada. As aulas de corpo do Macunaíma ajudaram um pouco, mas não chega nem perto do suficiente. É preciso mais estudo. O ator nunca, ao meu ver, deve se achar "completo". Sempre há espaço para mais estudo, mais conhecimento.
No cinema, eu e meu namorado Rodrigo Inamos nos bestificamos com a capacidade que os bailarinos de Pina Bausch têm de interpretar uma dança. Vemos tudo com outros olhos. Sentimos. Yoshi Oida nos diz no começo do seu livro que "interpretação" é a somatória da capacidade de atuar, dançar e cantar de uma pessoa. Ou seja, o ator DEVE saber fazer as 3 coisas. Não que ele deva ser um excelente bailarino ou cantor, mas deve pelo menos saber fazer as 3 coisas básicas.
Fica perceptível a diferença entre assistir um bailarino que apenas dança e outro bailarino que dança e sente. Ao sentir, o bailarino se mostra humano, os espectadores sentem-se mais envolvidos com a história. Pode até às vezes acontecer a tal de "catarse" durante o espetáculo. Se acontecer, parabéns bailarino: você conquistou o público, contou uma história, se comunicou.
Isso é algo que eu sinto falta nos espetáculos de dança. Os bailarinos reproduzem partituras corporais pré-determinadas, sem um tanto de sensibilidade. O espetáculo fica frio, o que esquenta é o ritmo da música, ou não. Seria tão mais interessante ver um espetáculo de ballet, jazz, dança africana, circo, sapateado, contemporânea - qualquer tipo de dança, mesmo- onde os artistas nos contam histórias por meio do seu corpo, sem uma palavra, mas que o espectador se sinta envolvido pela dança, pela técnica e pela emoção do artista. A partir do momento em que o bailarino/dançarino sabe que quer passar uma mensagem, tenta se comunicar com o público pelo seu modo artístico, o envolvimento é outro.
Digo a mesma coisa para os atores. Todos nós ouvimos muito falar de "verdade cênica", isso é uma batalha diária. Mas, do que adianta somente usar a nossa voz? O corpo fala. Quando o ator sabe usar seu corpo, a energia é outra. Ele faz tudo com mais certeza, se movimenta de outra forma, sai do óbvio e prende muito mais seu público, que percebe que aquele momento é sim, mágico.
Pina consegue em seu talento misturar as duas artes, que são complementares no palco, e exigir de seus artistas que façam as duas muito bem. Lembro em uma aula de história do teatro que eu tive, se não me engano com o Zédú Neves, quando ele nos mostrou o Cafe Muller. A reação da sala foi incrível. Todos nós queríamos estar lá, fazendo o Cafe Muller, tanto que em nossas cenas gostávamos de abusar da repetição de gestos. Experimente repetir a mesma partitura várias vezes, cada vez mais rápido para saber que sensação você teria. Ela é incrível.
Outra artista que usa das duas artes e a transforma em uma só é a finada Elis Regina. Existe uma grande diferença entre apenas cantar e cantar e interpretar, tanto que Elis é até hoje lembrada como a melhor cantora brasileira. Ela nos contava uma história a cada música.
A mensagem que quero passar é tanto para nós atores quanto para os bailarinos/dançarinos: aprendam mais sobre seu corpo, sobre suas emoções. Libertem-se na arte, sintam a arte. Ame seu público e a história que você irá contar. Em respeito à ele, estude mais, tente mais, exponha-se ao ridículo. É melhor que ficar escondido atrás de você mesmo. Ouse, sempre.