terça-feira, 20 de agosto de 2013

A ESPERA DO TEMPO PASSAR

Eu acredito em destino. Mas se eu acredito em destino, porque eu não sossego a ansiedade? Porque eu sou naturalmente ansiosa? Mas se eu sou naturalmente ansiosa, é porque talvez eu não acredite tanto assim em destino... Ah! Como minha cabeça explode! 

O mês de agosto sempre foi um mês estranho pra muita gente. Estranho, né? Porque será? Impressionante como este mês está estranho pra mim. São muitas esperas, muitas frases do tipo "eu sei que quando chegar a hora, farei a melhor escolha", "vamos esperar pra ver no que dá", "calma que coisas melhores virão". Sempre frases destinadas ao futuro! Sempre! Como se isso fosse acalmar quem fala e quem ouve. Incrível que parece desesperar mais... 

Irônico dizer que este mês o tema do projeto "Novos Olhares" é "Tempo". Tempo é uma coisa que todo mundo sabe o que é, mas ninguém sabe realmente explicar (como já dizia Santo Agostinho). O "tempo é o melhor remédio". Que inferno de afirmação! O tempo às vezes pode durar milênios, segundos, tudo depende do momento que está sendo vivido. 

Afinal, porque a gente sempre quer viver o dia seguinte? Pra nos assegurarmos que as nossas escolhas estão certas? Que viveremos o amanhã? Porque essa necessidade que o tempo passe depressa? Tenho a esperança que esse sentimento seja por conta da minha idade. Jovem, quer abraçar o mundo, acha que não terá tempo de realizar nada... 

A necessidade de sentir o tempo passar, ver que as coisas mudaram (para pior e para melhor)... engraçado que o tempo está sempre atrelado a evolução, nunca ao fracasso. É melhor pensar assim. Realmente acho que o passar dos dias (não o tempo, mas é o tempo) nos ajuda a resolver nossas questões. Mas quem as vive não quer pensar que daqui uns dias estará melhor, quer resolver o problema agora! Dane-se o tempo! Meu tempo é hoje. Mentira. Meu tempo nunca foi hoje, nunca consegui essa proeza. Meu tempo sempre foi o amanhã, o daqui 10 anos, 8, 6... e com o passar do tempo, o próprio tempo vai diminuindo. 

No projeto faremos uma cena de "O Jardim das Cerejeiras". Ótima lembrança de Rodrigo Inamos. Justo Anton Tchekov, que parece que nas suas peças o tempo não passa. E nesse caso o tempo passa, para a história, e não para  as pessoas. O tempo vem como um rodo, que vai passando e empurrando, deixando as pessoas contra a parede conforme ele passa. O tempo exige pressa, decisão! Uma peça ótima para esse momento em que tudo aguarda para acontecer. Aguarda o que? O tempo. 

A falta de perspectiva, a falta de notícias, a falta de certezas, a falta de coragem... tudo isso faz o tempo parecer uma eternidade! Parece que estamos adormecidos esperando a hora certa para acordar, levantar e começar a fazer algumas coisas. O tempo está muito atrelado ao medo, que por sua vez está muito atrelado à ansiedade, que por sua vez está atrelada à insegurança, que por sua vez está atrelada ao futuro, que está atrelado ao tempo. 

Um dia conseguiremos, verdadeiramente, saber esperar. Saber ficar muito tempo em silêncio ao lado de muitas pessoas... isso um dia não vai mais nos incomodar. Esperar não vai significar inércia, mas sim sabedoria. Que assim seja, amém!


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

IMPROVISAR A FELICIDADE OU SER FELIZ IMPROVISANDO?




   Se quiser se juntar à nós, é só chegar na Rua Augusta, 1239 e interfonar na Viração. Estamos abertos, principalmente para novas opiniões!    

Adriane Tunes e William Vasconcelos
    Há 2 meses tenho trabalhado, juntamente com a Cia de Teatro Olhares, no projeto "Novos Olhares", que pretende por meio do teatro trazer novas visões do mundo para as pessoas. A ideia é simples: trabalhar a cada mês um tema diferente com uma linguagem teatral diferente para, na aula aberta (última aula do mês), um convidado externo ligado às artes (qualquer arte) assistir as cenas preparadas e entrar na nossa discussão colocando, é claro, a maneira de como a arte dele pode ver o mesmo tema. Ou seja, diversos modos de olhar para um só ponto.

Alguns alunos e convidados.
    No primeiro mês trabalhamos com improviso e convidei meu amigo e ator Betto Pita para a aula aberta. Porque improviso? Levando em conta que a maioria do grupo estava conhecendo o universo teatral pela primeira vez, achei justo que eles entendessem que a graça - e a magia- do teatro é simplesmente acreditar no que você está fazendo, perder o senso do ridículo que muitas vezes nos coloca a sociedade, e confiar no grupo. Dizem que fazer teatro é se jogar de um precipício sem absolutamente nada em baixo. E é verdade. Principalmente no improviso.

Rodrigo Inamos, da Cia de Teatro Olhares
e Convidado
   A aula aberta foi uma delícia! Os alunos perguntaram, interessados, sobre as diferenças de fazer teatro decorando um texto, e de improvisar uma cena. É muito bom ver que os alunos se interessaram pelo tema e pelo convidado, fazendo perguntas que nós atores sempre nos fazemos: "Como conseguir a verdade na cena?". Ai ai... quem é professor sabe o quanto isso é bom!

   Neste mês que se passou, o nosso tema foi mais filosófico: "Felicidade", com cenas a partir de partituras corporais. Está claro que felicidade é um tema recorrente em artigos, facebooks, conversas de botequim... Cada vez mais o homem se pergunta se ele conseguirá um dia descobrir o que é a felicidade.

Alunas e convidada.
   Pedimos para na primeira aula trazerem objetos que respondessem a pergunta "O que é Felicidade", e vimos de tudo: meia, foto, música, DVD, texto... cada um trouxe o que para si significava. E a partir disso, fizeram cenas com partituras corporais e descobriram que o sentido de uma cena pode ser construída DEPOIS da própria cena. É saber que os alunos percebem e gostam das suas próprias descobertas, acredito que o conhecimento começa aí.

   Na aula aberta, chamei um casal de convidados: Adriane Tunes, atriz, pedagoga e psicóloga e Willian Vasconcelos, pensador (não se considera um filósofo mesmo tendo feito filosofia) e músico. Ambos com uma cartela cheia de opiniões, livros e músicas que tratavam sobre o tema.

   Muito bom perceber que existe gente da minha geração (18 a 30 anos) a fim de discutir e filosofar um pouco sobre a vida. Todos ficaram atentos às questões colocadas. Silenciosos. E por incrível que pareça, por 1h30min! Aquela história de que a minha geração não se interessa por nada me pareceu mentira naquela hora.

   Sobre o tema felicidade, fica claro que o homem não consegue - e não deve- definir. E que a cada minuto tentando saber o que é, o que significa, quer dizer 1 minuto angustiante a mais da não resposta. Confesso que fiquei aliviada ao saber que ninguém, nem o Dalai Lama conseguem definir. Talvez pare um pouco para pensar e sentir pequenos momentos de alegria, assim a tranquilidade me deixaria mais feliz. O importante é saber e perceber que cada um tem um motivo e momentos de alegrias extremas, e que não é ruim sentir tristeza. Para Pascal (estou correta, Willian?) o homem é um ser de tédio. Por mais triste que seja concordar com isso, eu concordo. Mas triste porque? Não estamos todos a todo momento tentando procurar algo que nos faça sentido? E quando encontramos este "algo", logo tratamos de encontrar outro "algo" que nos complemente porque o outro "algo" já nos cansou? Acredito que essas sensações de "quero mais" (e não cito coisas materiais aqui) fez o homem descobrir grandes coisas. Mas existem coisas além do próprio homem que seria chato demais se ele soubesse a resposta. Afinal, a graça e a dor da vida são as dúvidas!

   Este mês teremos o tema "Tempo" na linguagem do naturalismo. Acho que em uma cidade como São Paulo, onde 24 horas não são o suficiente, responder o que seria esse tal de tempo, ou ao menos tentar, seja útil e confortador, como foi a discussão sobre felicidade.