segunda-feira, 11 de junho de 2012

A ESCOLHA DE ASPETA

Hoje, meus amigos, o post não é diretamente voltado pra o teatro, mas existe por causa dele. Escrevi o esboço de uma peça sobre "escolhas", contando a história de Aspeta, uma mulher de 45 anos, médica, casada, sem filhos. Uma mulher que escolheu "esperar". Mas esperar o que? Nem ela sabe... confesso que me baseei um pouco em "Esperando Godot", de Samuel Beckett.
Aí vemos a magia da comunicação e das artes: depois de pronto, você não tem controle sobre a interpretação das pessoas. Mostrei a peça para alguns amigos, e chegamos na seguinte conversa: quantas pessoas agem como ela? Quantas pessoas simplesmente esperam sem necessariamente saber o que se está esperando? O que motiva a espera? O medo? A insegurança? No caso de Aspeta, o medo. Ela não se sentia capaz de nada, ela não confiava nela mesma. Era triste.
Durante a conversa chegamos no outro ponto: as pessoas esperam tanto que esquecem de simplesmente viver. Querem adiantar o tempo, querem virar a página da própria vida, sem nem ao menos ter escrito alguma coisa. Quando olham pra trás, o que vêem? O que se viveu? Viveu-se às pressas. Não defendo a ideia de viver só de presente, acho que o homem deve se planejar. Mas mesmo planejando, deve viver um dia de cada vez.
Esse assunto bateu muito em mim, pois achava que tinha emprestado à Aspeta apenas algumas características minhas: ansiedade e auto-boicote; mas não... percebi que eu mesma não consigo viver um dia por vez, eu mesma quero virar as páginas da minha vida sem nem ao menos tê-las escrito. Isso causa uma angústia tremenda! Um medo de não conseguir realizar tudo o que pretendo, um medo de me tornar uma frustada. Mas  frustada pelo que? O que mais frusta: a sensação de não ter vivido, ou a sensação de ter realizado somente alguns sonhos?
O que será que esperamos tanto da vida? Por que será que exigimos tanto dela? Será que a procura da felicidade nos torna mais ansiosos? Se já sabemos que a felicidade plena é muito rápida, porque desejamos tanto encontrá-la? Não podemos ser felizes com pequenas coisas?
Exigimos demais de nós mesmos e de nossas vidas. Passamos a maior parte do tempo planejando uma vida completa do que realmente vivendo: queremos nos formar, nos fixar no emprego, construir uma família, morar em uma casa própria, criar os filhos com tranquilidade, ter uma velhice mais tranquila ainda, e acima de tudo, morrer em paz, feliz que realizou todos os seus sonhos, inclusos ou não nesse planejamento de vida.
Tem alguma coisa errada com esse mundo do século XXI. Será que nos tornamos pessoas-mecânicas, acostumadas com a procura por ser feliz? Essa é a sina da geração coca-cola e da geração Y? Temos que viver calmamente, dar tempo ao tempo. O mundo hoje já é frenético demais, não desperdicemos as nossas vidas. Não faço votos pela espera, mas sim pela maneira sábia de viver: planejar, sonhar, mas com o pé no chão, sem grandes expectativas, porque tudo pode acontecer. Entendeu, Beatriz?