terça-feira, 5 de novembro de 2013

A Hora de Acordar

E de repente Júlia acordou. De um sono leve, levantou porque não havia mais razão de continuar dormindo. Foi descalça até o banheiro, tomou um banho para despertar, e quando se olhou no espelho não se reconheceu. Apagou e ascendeu as luzes. Continuou vendo aquele pessoa estranha no reflexo. Saiu do banheiro e voltou. De novo?! Apagou as luzes e saiu do banheiro. Nada. O problema deve ser do espelho... foi para o quarto. No quarto foi pior. Viu que não só o seu rosto tinha mudado, como seu corpo também havia. Entrou em desespero e saiu correndo, de pijamas mesmo! 

Na rua, tudo estava diferente. "Mas o que está acontecendo?! As coisas não eram assim!". Além dela, o mundo havia mudado. As coisas não eram mais vistas como antes. A rua estava mais silenciosa e cinza. As pessoas estavam com um rosto mais cansado. Ficou com medo. Resolveu voltar para casa. 

Olhando ao seu redor reconhecia todas as coisas: a mesa, a cozinha, seu quarto, seu próprio banheiro! Mas tinha alguma coisa de diferente... será que precisava usar óculos? Júlia ainda tinha algum tempo antes de ir trabalhar e sentou em seu sofá.

Passadas duas horas lembrando do que havia acontecido, decidiu tomar uma decisão: "Muito perigoso sair de casa com as coisas assim. Vou esperar que tudo volte ao normal, ou que tudo se esclareça.". Júlia não era nem muito nova e nem muito velha, cursou a faculdade, tinha um emprego, vida normal! Ligou para seu trabalho e disse que tinha alguns problemas para resolver, não batia cartão, então não houve problema. 

Como ninguém chegava, resolveu olhar pela janela para ver o mundo. Ligou a TV, o rádio, mas nada lhe respondia o que ela mais queria: "O que aconteceu com o mundo?!". Desistiu de novo. Ensaiou ler um livro. Na verdade ela só folheava as páginas, porque lendo ela não estava. Então, em um ato de coragem, colocou sua roupa e foi sair para a rua. Enquanto caminhava, percebia que as coisas estavam do jeito que sempre estiveram: seu bairro, os ônibus, a cidade, as pessoas... ela percebeu que o que havia mudado era a forma que ela enxergava tudo ao seu redor. Quando percebeu isso, sentiu uma dor, uma angústia enorme e teve vontade de chorar. Queria contar para alguém, desabafar, perguntar se era assim mesmo, mas com quem ela iria falar? Seus pais estavam no trabalho, ela era filha única, não tinha namorado, suas amigas, bom... tinha medo de ser exposta ao ridículo. Resolveu tentar entender por si só o que estava acontecendo e o que fazer com tanta angústia. 

Andando pela cidade algumas coisas a agradavam e outras não. Percebeu coisas que nunca tinha visto e simpatizou por outras que antes ela detestava. Júlia entendeu. A angústia tinha passado, bem pouco, mas já estava mais tranquila ao saber do que se tratava. 

Voltou para casa e encontrou com sua avó. Esta, que sempre parecia distante desta vez pareceu mais próxima do que nunca: abriu um sorriso e disse "É assim mesmo, com o tempo vai melhorando, mas não é o fim do mundo. Seja bem-vinda!". Júlia não sabia dizer se estava feliz ou se estava triste. Preocupada, isso sim ela estava! "Porque precisa ser assim?". Júlia voltou a dormir e não sonhou, foi um dos sonos mais pesados que teve, quase não acorda! "E se eu não acordar nunca?!". Levantou em um pulo. Foi ao banheiro, tomou seu banho e se viu no espelho. Dessa vez não se assustou, até gostou do que viu; fechou os olhos e fez uma promessa. Se arrumou e saiu para o trabalho, mas não esqueceu da sensação anterior, e nem da sua promessa!

Percebeu que essas coisas eram assim mesmo: assustam, mas passam. Ia doer, e não ia ser só uma vez, várias vezes! Nossa, quanta dor Júlia teve! E em todas as dores e angústias que Júlia sentiu, ela se lembrava da promessa que havia feito naquela época "Nunca perca o brilho nos olhos". Júlia dormiu, sonhou e acordou. Foi até o banheiro, tomou sua ducha e olhou no espelho. Seus olhos ainda brilhavam!  


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